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domingo, 10 de março de 2019

Carta de um progressista bíblico para um progressista liberal cristão



Crença, política, ideologia é fé, são pontos delicados de se trabalhar em nossa sociedade plural e polarizada. Minha intenção  é abrir um dialogo entre o progressismo bíblico categoria que creio que me encontro com o progressismo liberal cristão, nasce a ideia de escrever uma carta chamando atenção para nossos pontos de convergência e divergência, afinal ser progressista no meio cristão já é difícil, todavia creio que muitas vezes existe um problema crescente de interpretação sobre a visão de mundo e fé entre estes dois grupos, no qual acho importante a reflexão.

O Progressismo
Nós progressistas, seja bíblico ou liberal cristão temos vários pontos em comum, começando por participar de protestos civis a favor de direitos humanos, apoiar causas como direito a moradia, direito ao meio ambiente, somos a favor de programas como o Bolsa Família, por entender a necessidade de garantir o básico para seus cidadãos, criticamos fortemente a ilusão da meritocracia, seja pelo ponto de vista teologico ou político, afinal se temos algo é um privilégio, presente de Deus, seja trabalho, saúde e posição social, em contra ponto a visão ilusória e arrogante de "eu conquistei pelos meus próprios méritos", ouvimos Chico Buarque e Geraldo Vandré, muito mais que o gospel triunfalista tocado nas igrejas localizadas em barracões a cada esquina, lemos Le Monde Diplomatique Brasil  e Carta Capital ao invés de Veja e Estadão. Defendemos a escola  e universidade pública e gratuita,  conhecemos  Paulo Freire, não acreditamos na "mão invisível do mercado" como regulador justo das relações comerciais, concordamos com a análise crítica de Marx sobre trabalho, vemos a arte pela sua beleza e não de forma utilitarista, prezamos pela igualdade e equidade, pois entendemos que antes da queda, a imagem e semelhança de Deus isto é, os homens eram iguais, mas o pecado trouxe exploração e desigualdade, em nossas mentes olhamos para os EUA com ressalvas, bem como fazemos o mesmo com as privatizações em nosso país,  portanto temos uma bandeira em comum.

Mas, porém, todavia, entretanto, contudo, criar uma carta e categorizar é um exercício de preocupação pastoral, se somos tão parecidos no pensamento político, então onde entra as divergências e neste ponto existe um certo ou errado? Gostaria primeiro de exercer a minha crítica com toda  a humildade e compaixão, até porque não haveria motivos de escrever se não fosse em amor.

A Bíblia
Um dos pontos de grande divergência entre cristãos liberais e bíblicos está na interpretação bíblica, principalmente das cartas paulinas, muitos amigos liberais estão negando o ensinamento das cartas do Apóstolo Paulo, muitas vezes devido os apontamentos morais da crítica a homossexualidade da igreja de Corinto, ou então a sua forma restritiva  de entender quem pode exercer o ministério de liderança da igreja como a carta de Timóteo, no qual o líder deve ser somente o homem casado com uma só mulher, retirando dai recasados,  gays e lésbicas. Enfim a postura liberal teologica  diz que a  igreja deve ser inclusiva, que Cristo é amor e que o Apóstolo está errado e por fim que Cristo nunca pediu esta postura apontada por Paulo a seus seguidores.

Meus amados, entendo que não podemos fazer um elastissismo teológico para enquadrar o inclusivismo na igreja, a hermenêutica e exegese bíblica deve ser respeitada, em outras palavras não existe muito espaço para dizer que a Bíblia como um todo não condena aquilo que é condenável textualmente, e diferente de um fundamentalista radical, o que é condenável é o pecado da pessoa, e não a pessoa em sí,  a Bíblica inclusive aponta muitos outros pecados, uns como pecados coletivos que nós mais progressistas conseguimos enxergar com maior facilidade que os conservadores, porém não podemos através de uma leitura humanista, ler a Biblia com os mesmos óculos, pois a nossa leitura de vida como cristãos deve ser da Bíblia para o Mundo e não do Humanismo para a Bíblia.

Logo sobre o amor, devemos amar as pessoas, mas não necessáriamente suas práticas e isto imputa sim na restrição de cargos de liderança da Igreja, uma vez que se a pessoa não entende se quer que está errada perante Deus e perante a Bíblia, não deve exercer um cargo eclesiastico, e se entende é seu dever lutar em Cristo contra sua própria carne, afim de ser santa e exemplo para os irmãos da fé e conhecer a verdadeira libertação de sua escravidão de carne.

Creio que quem luta na vida sexual seja homossexualidade, ou lascívia ou qualquer pecado similar tem uma luta constante contra o pecado, neste período se a pessoa está "entregue a seus próprios desejos" ela não deve ser liderança, mas sim ovelha, pois necessita ser cuidada pelo corpo de Cristo, e sim há esperança de transformação em Cristo, seja em seu dia a dia ou na  transformação pessoal, e nós como crentes em Jesus devemos ajudar todas as pessoas que vem a igreja com seus fardos, logo devemos ser inclusivos somente no auxílio a caminhada cristã, mas jamais distribuindo ministérios e dando cargos nesta condição, isto tem haver com ser novo na fé, com dar os frutos do Espirito Santo, que incluí domínio próprio, isto não quer dizer que a pessoa não tem talentos ou não pode contribuir com a igreja, afinal todos nos em algum grau lutamos contra o pecado, porém uns já estão com uma fé mais solida, já não são mais crianças na fé, levadas por ventos de doutrinas, dominadas pelo pecado, já ultrapassaram algumas barreiras sobre vencer o mal e em confiança e entrega a Jesus.

Segundo, sobre este tema do relativismo das cartas e dos textos bíblicos, qual é a grande chave de interpretação? Os conceitos  pós modernos e plurais  de nossa época ou os próprios autores bíblicos, inspirados por Deus? Aqui eis a questão da revelação, não sou radical ao ponto de acreditar que dentro das escrituras não existe espaço para literalidade como poesias, parábolas, cânticos,  todavia temos alguns pontos é o principal ponto é reflita sobre sua chave de interpretação da sua fé, se não for os autores bíblicos será que pode ser confiável uma outra chave? Ou estamos inconscientemente criando nosso próprio deus, da Bíblia, em um modelo Roma Antiga, construindo um deus z, e chamando ele de Deus da Bíblia, porém deformado...isso é muito comum Israel já fez isso, fez um bezerro de Ouro para dizer era a imagem do Deus verdadeiro e levou uma de Deus que disse que não era para fazer imagens Dele, hoje muitas vezes acho que fazemos "imagens" filosóficas de Deus em nossa mente, do tipo Deus é isso ou aquilo, sem consultar a própria Bíblia que é  o único livro que podemos de fato confiar, sobre a sua revelação.

Ideologia, partido e agenda. 
Somos cristãos meus caros, logo devemos ter muito cuidado com a idolatria a outro deus que não seja o Pai Celestial, em outras palavras por maior que seja no nosso ativismo em transformar a nossa sociedade, este ativismo não pode ser maior que nosso amor e nossa comunhão com o  Pai Celestial, em outras palavras, precisamos ter comunhão com Cristo, o homem é falho e toda a ideologia tem pontos fracos, seja de Marx, Trotsky e claro com certeza de Adam Smith e do capitalismo desenfreado.

Neste ponto precisamos cuidar de nossa alma, do nosso coração e de nossa identidade, conhecer mais uma teoria política do que a Bíblia não é saudável para a vida, temos que entender também que o tempo não é nosso, logo é importante se posicionar mas sem idolatrar a própria ideologia ou ainda pior seus agentes, que normalmente são homens bem falhos, vamos tomar cuidado com nossas camisetas e bandeiras, sem por outro lado entrar em um comodismo ou em uma visão simplesmente individualista de mundo.
Devemos também entender que a ideologia de esquerda bebe do materialismo assim como o capitalismo, ou seja fala do tempo presente, desta terra e não de questões existêncialistas, como eternidade, logo sua resposta será somente  sobre  o conforto social de forma difusa e coletiva, atingindo os mais desfavorecido desta sociedade o que  irá  no máximo se tornar uma espécie deformada por ser somente material da  redenção temporal e provisória e neste planeta, logo não pode ser o ideal primário de nossa vida. Exemplo claro é o indice de felicidade de países nórdicos, conseguiram erradicar a miséria, possuem as melhores escolas do mundo, mas isso não é transformado em felicidade e muito menos é garantia da salvação para o povo, por mais que é um exemplo a ser seguido do que é justo em equidade, pelo menos como nação.

Igreja e o pensamento diferente. 
Discussões nas redes sociais,  muitos deixaram de até frequentar a igreja, mas será que isso não é reflexo de uma imaturidade nossa, como seres  humanos  que não conseguem conviver com o diferente? Eu posso discordar de um escravocrata, ou  de um racista,  achar ele terrivel querer a prisão dele, combater com todas as minhas forças seu modo de pensar, porém  minha obrigação além de fazer tudo isso é ama-lo, afinal não foi Jesus que disse "Ame os seus inimigos", então não seria melhor complementar meu ativismo com oração para transformação de mente da pessoa, em  Cristo, "Deus dê amor ao meu coração por fulano, mude a mente dele naquilo que é pecado contra tí", não podemos exercer nosso chamado ao sermão do monte de justiça social,  sem amor...e neste ponto o amor deve atingir tanto a nossa vida pessoal. para sermos coerentes com a nossa fala de direitos humanos, deveriamos sim nos alistar para visitar as prisões, para ir até as favelas e ofertar nosso tempo, talento e recursos com ajuda humanitária além é claro de cobrar o Estado e isto seja de forma individual ou como igreja, se não o nosso discurso será vázio..talvez esta é a maior crítica a nós progressistas, no fundo somos "socialistas de Iphone".

Humildade, no fundo não sabemos ao certo se aquele amigo nosso liberal, do Misses, não tem razão em alguns pontos, talvez estamos não envergados em uma posição política, seja por sermos combativos ou por estarmos em auto defesa devido a polarização, que não conseguirmos pensar em outras alternativas, afinal o mundo e os sistemas políticos e econômicos são dinâmicos.

Logo devemos exercer a humildade de ouvir, de sentarmos e observarmos  diversas alternativas, de não criticar por criticar e conviver com o diferente, respeita-lo como ser humano,  os direitos humanos atingem os de direita também, a graça de Deus atinge a todos nós.

Meu chamado é volte para a sua igreja, abençõe o seu pastor, peça perdão por ter brigado, se a ideologia é muito diferente troque de comunidade da fé, não porque brigou com seu irmão, mas sim por doutrina de fé, abrace quem é diferente, quem é excluído, mas trate pecado como  pecado, continue abraçando o pecador e deixando Deus te abraçar também,  cuide, console, esteja presente, continue protestando, seja pacificador inclusive neste meio, e minha oração sincera é venha para   time dos progressistas bíblicos, fica o chamado!

2 comentários:

Paxsemiosis disse...

O meu chamado é ficar de boas e nunca mais voltar pra denominação. Quanto desgaste. Obrigação eu tenho com a minha família, o resto eu faço de boa vontade por causa do amor que Deus depositou em mim. Eu amo e sou amada por muitas pessoas ao meu redor. Se o amor for fingido, ele vai gerar mágoa. Não preciso mais viver isso porque a ceara é gigantesca.

Náy Rocha disse...

Esse foi um dos textos feito por um cristão progressista mais sóbrio que já li. Fiquei muitos anos afastadas de denominações e até de Deus, daí pesquisando sobre a palavra Dele descobri a teologia progressista. Desde então voltei a buscá-lo e até a frequentar regularmente uma denominação. Infelizmente não é uma onde se prega a teologia progressistas, mas frequento, retenho o que é bom e ignoro o legalismo.